quarta-feira, 30 de abril de 2008

Bilhete de Identidade

Bom dia!
Hoje posto um poema do poeta palestino Mahmud Darwish. Símbolo da cultura da palestina e um dos maiores poetas árabes contemporâneos. Os seus livros circulam aos milhares em todos os países árabes e os estádios enchem-se para ouvir os seus recitais poéticos.

"Escreve sou árabe o número do meu bilhete de identidade é o cinquenta mil tenho oito filhos e o nono chegará... depois do verão
Ficarás irritado?

Escreve sou árabe trabalho com os meus companheiros de infortúnio
numa pedreira tenho oito filhos para eles extraio da rocha a carcaça do pão a roupa e os cadernos E não venho mendigar à tua porta não me curvo no átrio da tua casa Ficarás irritado?

Escreve sou árabe Tenho um nome vulgar
sofro num país que ferve de raiva As minhas raízes... fixadas antes do nascimento do tempo
antes da eclosão dos séculos antes dos ciprestes e das oliveiras
antes da erva O meu pai... da família do arado e não dos senhores de Nujub
O meu avô, um camponês sem árvore genealógica Ensinou-me os movimentos do sol antes da leitura A minha casa uma cabana de guarda feita de canas e ramos Estás contente com a minha condição?
Tenho um nome vulgar

Escreve sou árabe cabelos… pretos olhos... castanhos sinais particulares na cabeça um keffiah seguro por um cordel A palma da minha mão, rugosa como a rocha
arranha a mão que aperta o meu endereço: sou duma aldeia perdida, sem defesa
e todos os seus homens estão no campo e na pedreira. Ficarás irritado?

Escreve sou árabe Tu espoliaste-me das vinhas dos meus antepassados
e da terra que cultivava com todos os meus filhos e só nos deixaste a nós e aos nossos descendentes este cascalho O vosso governo vai também apoderar-se dele como dizem?

Então escreve ao alto da primeira página Eu não odeio os meus semelhantes e não ataco ninguém Mas... se um dia me obrigarem a passar fome comerei a carne do meu espoliador Fica atento... fica atento à minha fome e à minha cólera! "


Que a comunidade em geral possa ver com outros olhos os povos do oriente, e deixar de lado tanta incompreenção e preconceito!

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