domingo, 28 de novembro de 2010

O que é Religião - I

Em conceitos gerais e usuais populares, aprendemos que Religião viria da palavra latina religare, ou seja, o de religar, o que em caráter usual se usa para religar a criatura com o seu criador. Mas o certo é que este significado a muito tempo não mais convence especialistas, léxicos e linguistas em geral que defendem que o termo religião seria oriundo da palavra latina religionem, que seria usado pelos romanos bem antes do surgimento do cristianismo e tem por significado mais exato como “um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão”, ou seja, disciplina obrigatória, rígida e dogmática.

Já nas edições revisadas dos dicionários “Aurélio” da lingua portuguesa, encontramos a palavra Religião como sinônimo de “crença na existência de forças sobrenaturais bem como suas manifestação através de ritos e práticas externas”.

O Dicionário Michaelis de lingua Portuguesa, grafa o vocábulo “Religião” como sendo sinônimo de “serviço de culto a Deus ou outra divindade por meio de ritos, práticas, preces, sentimento de submissão a esta divindade, culto externo e interno a este mesmo Deus, relevação divina das palavras da divindade, temor de Deus, obrigação moral e dever de prestar reverencia para com a divindade...”.

De acordo com a origem da palavra e em paralelo com o seu real significado para a lingua portuguesa, podemos observar seu real conceito. Em contraste com o já exposto, transcreveremos a seguir a crítica acadêmica a respeito sobre o conceito de “Religião”. Sendo a palavra “Crítica” uma prática do diálogo, onde é nada mais nada menos do que a exposição de opinião relativo a algo exposto, não existindo academicamente os termos populares “crítica construtiva ou destrutiva”, pois só existe a Crítica como uma avaliação de material intelectual produzido, sendo neutro e apenas expositivo.

Academicamente, como exposto na obra “Modernidade, Conceitos e Valores” (Unopar Editora, londrina, 2008), o Mestre em História Social, Guilherme Bordonal, nos esclarece que além do já exposto sobre o vocábulo Religião, o mesmo deve ser entendido como um processo de formação ou transformação cultural em massa dentro de uma sociedade, visando a legitimar ideais políticos, econômicos e sociais, bem como as noções de ética e moral das mesmas sociedades onde estas “religiões” nascem, o que causa a transformação social das mesmas num processo interligado entre o surgimento da religião como símbolo máximo da transformação social acontecida no mesmo grupo.

Em outras palavras, além das práticas, normas, dogmas, crenças e crendices, as religiões só nascem através de transformações sociais intensas e visíveis, e quando esta mesma grande transformação não ocorre não existe uma religião, pois seria apenas uma facção, seita ou linha doutrinária divergente da corrente religiosa da qual ela se separa.

Como exemplo citamos as três religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo.

O Judaísmo, como religião e movimento cultural, nasceu junto com a saída dos hebreus do Egito, onde Moises institucionalizou um conjunto de 613 regras que norteariam a vida daquelas pessoas, passando a serem os primeiros homens a terem a crença de um deus único, e assim criaram o Povo Hebreu, sendo modernizado para sua fase atual após o ano 135 de nossa era quando foram expulsos de jerusalém e dando inicio a fase de vivência deste povo na diáspora.

Já o Cristianismo é outra religião monoteísta, que foi realmente “criada” no ano de 313 em roma pelo imperador Constantino, e dogmatizada no ano 325 pelo Concilio de Nicéia, vindo mais tarde a ser a única instituição remanescente do império romano, e vindo a dar base para a formação dos estados europeus da modernidade.

O Islamismo surgindo no ano 623 (aproximadamente), veio a unificar as varias tribos nômades da península arábica ao redor de uma mesma crença, ou conjunto de crenças, vindo a surgir a partir daí um “Povo Árabe”.

Assim sendo, podemos definir também o Protestantismo como uma religião, pois assim que o mesmo surgiu, introduziu uma nova ordem mundial na Europa e em outros continentes, que foi a mudança sócio-cultural e econômica que foi o advento das práticas que conhecemos como “Capitalismo”. Assim sendo os protestantes (luteranos, calvinistas, puritanos, presbiterianos, anglicanos), apesar de serem cristãos, tem academicamente por religião a “Religião Protestante”, pois dogmaticamente diferem em alguns pontos com as correntes católicas (as primeiras correntes oficiais cristãs), e porque com o seu surgimento (protestantismo) surgiu o capitalismo e teve inicio o fim do feudalismo na Europa, e tendo iniciado a formação dos atuais estados europeus.

As religiões dentro deste princípio podem conter facções, linhas, ramificações, seitas, partidos, etc, como por exemplo, dentro do Judaísmo temos as linhas Ortodoxas, Reformistas, Liberais, Messiânicas, e já existiram os Ebionitas, Saduceus, Essênios e Fariseus (sendo esta ultima ainda existente e base de todas as linhas judaicas, sendo preservada na corrente ortodoxa). Dentro do Cristianismo temos as linhas católicas, evangélicas, reformistas, pentecostais, neo pentecostais, etc. Dentro do Islamismo temos as correntes Xiitas, Sunitas, Sufitas, etc.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Crítica de livro - Operação Cavalo de Troia 1

Apesar de muitas opções literárias presentes em lingua portuguesa, o brasileiro ainda é um povo que pouco se proporciona este prazer, e infelizmente quando se apega a uma leitura, não utiliza a razão e o bom senso para averiguar se o que esta lendo é uma ficção ou um fato real, e chega a criar até mesmo verdadeiras filosofias em torno de algumas obras. Enfim, após ler um livro que tem a muitos anos um forte apelo, citado até mesmo por professores e "pesquisadores", afirmando ser este um relato verdadeiro, escrevo esta pequena crítica após ler e estudar as páginas da referida obra.

Apontaremos a seguir as discordâncias históricas e culturais encontradas no referido livro, o que por si só comprovaria seu conteúdo fictício e não merecendo crédito quanto a sua veracidade.

1 – A autor fala que a missão retornou ao ano 30 da nossa era, desconsiderando as correções que nosso calendário sofreu, pois o mesmo fala num número exatos de ano, ou seja, ele retornou a exatos 1980 anos atras (do nosso ponto de vista, 2010). Neste ano exato o autor relata que a pascoa judaica, ou seja, o Pessach ocorreria entre uma sexta e um sábado ou shabat judaico. De acordo com qualquer calendário perpetuo, tanto o kaluach (calendário hebreu) quanto o calendário perpetuo católico (com a correção do calendário juliano para o gregoriano), colocam exatamente as datas de sua chegada ao passado, dia 30 de março numa quinta feira (como o mesmo afirma), mas a páscoa daquele ano não caiu no sábado, mas sim entre quarta e quinta, (quarta a vespera e quinta a pascoa mesmo). Do mesmo modo o autor se esquece nas suas conversões de que o calendário judaico é um calendário que tem seu inicio ao por do sol, ou surgimento da primeira estrela, e diferente do gregoriano que começa após as 23:59.

Todo o meio acadêmico já sabe que Jesus historicamente pode sim ter existido, pois temos referencias a ele no próprio Talmud, alem da obra de Josefus, e que corrigindo os cálculos do calendário gregoriano, identificamos seu nascimento em aproximadamente entre 06 e 08 antes da era comum, ou seja, mais precisamente no ano 07 antes de cristo. Desta forma, Jesus tendo pregado dos 30 aos 33 anos, sua morte ocorreria no ano 26 da nossa era, nesta data sim a pascoa ou pessach ocorreria num shabat, mas no dia 23 de março. De acordo com os calendário, da mesma forma se Jesus tivesse realmente nascido no ano 1, e morrido no ano 33, a pascoa ou pessach também ocorreria num shabat, mas no dia 04 de abril. Logo as datas informadas no livro estão totalmente erradas. Já com este erro podemos desconsiderar a obra como autentica, pois temos material suficiente e ao alcance de todos hoje em dia para comprovar tal evidência.

2 – De acordo com as leis referentes ao shabat, só é proibido alguns trabalhos (39 pra ser mais exato). Não se pode fazer fogo no shabat, apenas as duas velas que se acendem antes do por do sol de sexta-feira. Como então que em pleno shabat eles bebiam faziam alimentos ao fogo (leite, almoço, etc) se fazer ou mexer com fogo no shabat é proibido? É proibido banhar-se no shabat, a menos que seja extrema urgência de higiene (doença por exemplo), logo por prudencia não se lavam ao acordar como relata o autor.

Outro ponto importante que o autor relata é que o sexo é proibido no shabat, o que não é verdade, muito pelo contrario, por ser um dia de descanso de trabalhos e um dia para se estar com a família, é recomendável ao casal que faça sexo, pois é o dia mais propicio para trazer ao mundo mais uma alma, devido a proteção divina que paira neste dia.

3 – Agora veremos erros grotescos e preconceituosos:

  • Afirmar que Jesus era caucasiano. Jesus sendo judeu, com certeza seria semita e não ariano. Sendo semita teria feições que representam os povos do oriente médio da atualidade, ou seja, pele morena ou amarelada, olhos pretos, castanhos (em todas as tonalidades), mel levemente esverdeados (olhos claros citados por publuis lentulus). Não existe olhos azuis em povos semitas, mesmo hoje que existe a miscigenação é algo muito difícil ocorrer, pois olhos escuros são dominantes aos olhos azuis, imaginemos a 2000 anos atrás com todo o orgulho racial e leis de matrimônio existentes entre os judeus.
  • Pedro de olhos azuis. Como mostrado acima seria impossível um judeu de olhos azuis em plena antiguidade. O autor ainda aforma que pedro tirava o bigode e que seu irmão sempre estava bem barbeado, o que denota mais um erro crasso, pois existe uma lei na Torah que diz “e não tocaras na extremidade de tua barba”, que faz com que os homens não raspem nunca sua barba, e faz com que muitos ortodoxos deixem ainda uma trancinha de cada lado do rosto, na junção da barba com o cabelo. Logo a lei proíbe e inibe que os homens tirem sua barba, ainda mais que usem a face totalmente desprovida de barba e bigode, o que era uma moda grega, e a cultura grega era totalmente repudiada pelos judeus (apenas alguns da elite eram coniventes, mas não totalmente helenizados).
  • O autor pinta Jesus com um manto vermelho. O manto chama-se Talit, que é o manto de oração dos judeus, e existem leis que o regulamentem. Entre eles seria a presença de um fio azul em cada um dos quatro cantos do manto. Quanto as cores, vale ressaltar que os romanos impuseram muitas restrições, pois as castas romanas se diferenciavam pelas cores de seus mantos, por exemplo, as cores azul e vermelho e todas as suas tonalidades eram exclusivas dos cidadãos de roma, sendo passivel de morte outra pessoa as ostentar, logo Jesus já teria morrido por desacato se realmente tivesse um manto vermelho. Outro ponto, para se adentrar no templo de jerusalém, os judeus usavam mantos brancos, pois no momento da oração, todos cobertos de mantos brancos (demonstrando pureza e humildade) seriam todos iguais perante Deus (tanto ricos quanto pobres), logo o mais comum é que todos os mantos fossem brancos ou em tons claros, e nunca nas tonalidades de azul e de vermelho.
  • O autor fala que todos os dias escutava-se moendas de grãos, até mesmo na casa de lazaro, mas sua irmã comprava o pão. Se existiam moendas é justamente para fazer a farinha para fazer pão, não havendo a necessidade de comprar, pois a compra era justamente para os estrangeiros ou para os próprios romanos que lá habitavam.
  • O major do livro fala que teve um bom aprendizado de grego, aramaico (alguns dialetos) e até mesmo hebraico, mas não conhece a palavra “tecton” em grego (construtor), ou muitas expressões em aramaico, que seriam de uso corriqueiro.
  • Pagina 211, 2º paragrafo. Fala de um relevo onde se vê uma estrela de 5 pontas e o mesmo faz menção ser a estrela de Davi, só que a estrela de Davi possui 6 pontas. O autor fala que a palavra Jerusalém é formada por 5 letras, uma em cada ponta da estrela, mas como já dito, a estrela de Davi tem 6 pontas, e a palavra Jerusalém escrita em hebraico ou aramaico possui 7 letras.
  • Pagina 214, 6º paragrafo. O autor fala que Jesus disse que Deus abandonaria os judeus e eles seriam destruídos se renegassem a doutrina que Jesus estava trazendo. Bom, quanto a isso não precisa ser um especialista para ver a incoerência, primeiro que Deus não abandonaria, e segundo que mesmo os Judeus rejeitando Jesus até hoje, eles continuam existindo, e reconstruindo seu estado autônomo como nos tempos do rei Davi.
  • Pagina 305-306, cardápio da pascoa. Em primeiro lugar o cordeiro era feito no templo, e ao que da a entender era cozido e não assado. Em segundo lugar, patas e vísceras são partes impuras e jamais seriam servidas juntas, nem ao mesmo preparadas, pois após o abate de forma kasher estas partes são colocadas foras imediatamente ou vendidas a não judeus.
  • O autor fala em Jaroset, que em português se escreveria Harosset. Mas a receita esta errada, pois o harosset não vai vinagre. E não é sobremesa, faz parte do pratos ou dos seis pratos principais servidos numa única bandeja. É uma pasta a ser comida com as mãos e não uma compota como descrito.
  • Todo o projeto cavalo de troia teve um extremo cuidado para não levar nada de nosso tempo ao passado, tanto que o personagem Elizeu recebia alimentação via sonda, e suas fezes eram coletadas em um aparelho conectado na sua extremidade retal, pois o mesmo não faria nenhuma alimentação dentro do “Berço” para evitar varios perigos. Como então o personagem Jasão faz um desjejum a moda americana, com cereal, leite, ovos e bacon? De onde em plena palestina do século 1 conseguiria bacon e cereal? Onde ele cozinhou este café da manhã, já que o livro dá a entender que não existia “cozinha” no berço?

A obra ainda apresenta muitos erros, tanto nas leis quanto nos costumes judaicos, mas somente com o pouco apresentado podemos averiguar que não se trata de um relato verdadeiro, mas sim de uma obra de ficção, que não teve o minimo de estudo para sua construção, pois que se fossem resolvidos estes pontos até poderíamos dar créditos ao enredo, mas, as evidências comprovam a total desarmonia em datas, locais, costumes, tradições, entre outros tantos detalhes.