Fenadi 2013, e mais uma polêmica no ar, a presença ou não de Indígenas no parque da feira.
Por ser um tema delicado, vale sempre a pensa ressalta alguns pontos fundamentais.
Em primeiro lugar, devemos analisar qual o caráter da Fenadi. Por mais que seja a “Festa Nacional das Culturas Diversificadas”, uma de suas intenções era a de “resgatar” alguma coisa da cultura dos grupos “colonizadores” que vieram para tornar possível a existência da colonia que surgia após a criação da picada conceição.
Na vila formada, que veio a se tornar a cidade de Ijuí, infelizmente foram assentadas famílias de colonos europeus oriundos das colonias velhas, e não foram assentados ameríndios. Logo, esta festa ou feira, é definida em cima daqueles grupos étnicos dos colonos apenas que se organizaram e hoje mostram sua culinária (de fato) e cultura (será?) anualmente junto a expoijui-fenadi.
Mostrado então o caráter da feira, vamos analisar o seguinte: será que caberia dentro desta temática colocar representantes de etnias ameríndias gaúchas na festa? Creio que não, pelo menos neste contexto da festa/feira. Agora, que os mesmos merecem sim um reconhecimento, e um espaço, não apenas na feira, mas na sociedade em si, a resposta é sim. Mas não é fácil e nem simples.
O primeiro erro que muitos aqui cometeram é identificar os “índios” como um único grupo étnico e pronto. Esta erradíssimo este pensar, porque só na região onde esta assentada Ijuí, historicamente contávamos com dois grandes grupos representantes de nações indígenas diferentes, que são o grupo Tupi-guarani, que hoje estão pelas ruínas (Nação Guarani) e os representantes linguísticos do tronco Macro-Jê, que passamos a conhecer como kaingang. Outro erro grotesco, além do preconceito racial velado em algumas palavras é achar que “índio” e “branco” são coisas diferentes, e que apenas o “branco” que é civilizado e que o “índio” não tem direito de usar as coisas dos “brancos”. Imaginem a cena a 500 anos atrás. Pessoas civilizadíssimas, portanto suas armas, cavalos, armaduras, doenças, com sede de ouro, numa cultura que conhecemos como idade moderna, chegam a uma terra desconhecida para eles e encontram pessoas que ainda viviam no período neolítico. O que será que poderia acontecer? Os povos americanos foram massacrados, mutilados, violentados por este medíocre homem “civilizado” e aqueles que sobraram foram jogados diretos do neolítico para a idade moderna, queimando etapas primordiais no seu desenvolvimento. Ou alguém aqui acha que os europeus já surgiram no globo usando calças jeans e tomando coca-cola? Até parte da idade média os povos arianos eram tão selvagens quanto eram os ameríndios, basta aqueles que quiserem saber das origens, hábitos e costumes dos povos germânicos (que deram origem a maior parte dos povos que são representados na Fenadi) lerem o livro “Germania” de Tácito, um historiador do Império Romano.
O famoso movimento Neo-Paganismo surgiu aonde em pleno século 20? nesta mesma Europa civilizada, afim de resgatar uma cultura politeísta e animista dos tempos da antiguidade ariana, onde deveriam arder os altares a Odin, Thor e outros tantos deuses que ansiavam por rituais e orgias sexuais, que creio serem incondizentes com o ideal de civilização moralista imposta aos ameríndios. Já os ibero europeus (portugueses e espanhóis), se tornaram civilizados usurpando a cultura de quem mesmo? Claro dos Muslim, ou muçulmanos, na sua maioria da etnia bérbere, negros do norte da africa. Vejam só uma etnia negra, convertida a uma cultura semítica, apresentou a cultura, talheres e até mesmo o uso de roupas às culturas europeias, que ironia para os que defendem a supremacia de raça não é? Enfim, o fato é que sempre haverá o interculturalismo, ou seja, a mescla de culturas, pois se assim não o fosse, nossa cidade se chamaria outra coisa e não Ijuhy, teria algum nome nórdico, germânico, etc.
Dizer que tem índio que é quase igual a branco é a mais pura e clara forma de preconceito que em pleno século 21 é incabível de existir num meio dito civilizado. Os indígenas podem e devem cultuar sua tradição e costumas, da mesma forma que os gaúchos, os descendentes de alemães, mas não é por isso que vemos os gaúchos só andando a cavalo por ai, não é? Ou alemães com suas bermudinhas e chapeuzinhos andando pelo centro todos os dias? Porque os “índios” não podem cultuar seus costumes, línguas, tradições, religião e usar jeans, ouvir MP3, ou jogar PlayStation? Quanta ignorância. Mas se abrirem espaço para construir quem sabe uma casa étnica para representantes indígenas da região, tem sim que ficar claro a existência de grupos como os kaingang, guarani, e outros que tenham existido. E não dizer que tudo é índio, pois se assim for, então acabem com a metade das casas étnicas de hoje e englobem numa única casa só com a alcunha de “germanos”. Enfim, a questão indígena é muito delicada e infelizmente existe muito preconceito e porque não dizer, uma certa ignorância histórica.
Se a questão é se deve-se ou não criar um espaço para os “índios”, é claro que sim, mas com o devido respeito e importância que os mesmos merecem, e principalmente que nós historiadores, os ajudemos a resgatar a historia que os ditos civilizados fizeram questão de destruir, pois hoje se os indígenas estão na condição que estão é porque perderam sua cultura, destruída pelos colonizadores, e pelo preconceito de pessoas que os vem como diferentes do homem branco e que não devem ter uma vida contemporânea, com todas as comodidades que temos.
E que fique claro que índios, semitas, arianos, caminitas, etc, somos todos homo sapiens sapiens, com culturas diferentes, mas que ao se encontrarem contribuem de sobremaneira para a formação de uma terceira cultura, que no nosso caso é a cultura “ijuiense”, gaúcha, brasileira. Viva a liberdade e principalmente o respeito cultural.
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