quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A banalização da história

Retornando das férias escolares, me deparo com uma situação bem interessante, o achar que se pode ser um historiador por hobbie, motivado por revistas, filmes e telenovelas que pipocam aos montes na atualidade.

É uma pena pessoas pensarem assim, desfazendo do valor, das horas gastas em pesquisas e leituras, das discussões, das pesquisas, dos "insights" em longas noites acompanhado por uma boa xícara de café.

Enfim, pobres pessoas que afogadas no mundo da informação, não conseguem perceber a grandeza do historiador, por isso compartilho com todos nossos leitores assíduos um artigo publicado por Emir Sader, em 22 de janeiro de 2014 e que se encontra no seguinte endereço:http://www.cartamaior.com.br/?%2FBlog%2FBlog-do-Emir%2FA-banalizacao-da-historia%2F2%2F30063&fb_action_ids=567138863378197&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B480772268698795%5D&action_type_map=%5B%22og.recommends%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

A banalização da história

Para Marx, a História é a única ciência social, não porque exclua as outras, mas porque as integra. A Historia não é historiografia, a visão redutiva dos fatos, das datas, dos personagens.

Historicizar um fenômeno é entender como ele foi gerado, em todos os seus aspectos - economico, social, politico, cultural -, como ele se reproduz – conforme suas dimensões objetivas e subjetivas -  e como ele foi ser transformado. Em suma, como se produz a historia humana e como os homens, que produziram, inconscientemente, suas condições de existência e sua própria consciência, podem transformá-la, transformando-se a si mesmos.

Historicizar é desnaturalizar, desconstruir toda forma de fatalismo, de aceitação da realidade como ela é. É encontrar os fios que articulam a realidade, para poder influenciar na sua transformação, pela prática concreta e pela consciência humana que, transformada em força material, adquire capacidade de modificação, de humanização do mundo.

Há algum tempo passaram a proliferar livros de “história” no Brasil, num país tão “sem  história”, tão desacostumado a pensar a sua história, tão pouco convidativa que ela parece ser, como foi ensinada na escola.

Recontar, como se fosse telenovela, episódios como a chegada da monarquia portuguesa ao Brasil – fugindo das tropas napoleônicas – a própria proclamação do pacto de elite pelo qual a independência não introduzia a República no Brasil, mas uma monarquia, e outros episódios como esses. Querem passar a impressão que estão impregnados de história, na sua forma mais tradicional – estudo do passado.

Relatam, mas não explicam nada. Nenhum desses episódios permite entender o que foi o colonialismo no Brasil, como  a exploração do país se apoiou em trabalho escravo. Os dois pilares indispensáveis para entender a história do Brasil, segundo o seu maior historiador, Caio Prado Jr., estão ausentes: o colonialismo e a escravidão, que nos fundaram como país e se tornaram elementos indispensáveis para compreender o país, estão ausentes. Os personagens parecem representar a si mesmos e não a interesses históricos que os transcendem.

Desmoralizam ao invés de reivindicar a história. Vulgarizam ao invés de aprofundá-la. Servem para vender livros e a ilusão de que os incautos que os compram e os leem estão se ilustrando e adentrando na história do país.

Naturalizam ao invés de historicizar, esvaziam de conteúdo histórico os episódios, para transformá-los em banais episódios factuais, protagonizados por personagens de teatro e não por encarnações de relações sociais. Uma operação contra a história como método de desalienação, de compreensão do mundo, em nome da história.

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