quarta-feira, 22 de junho de 2011

DURKHEIM: CONTRIBUIÇÕES PARA O DIREITO CONTEMPORÂNEO

Este artigo refere-se às análises realizadas pelo sociólogo Émile Durkheim. na Europa. durante o surgimento de uma nova economia. As transformações ocorridas na sociedade feudal, com a implantação de técnicas de cultivo aprimoradas e a substituição da mão de obra servil pela assalariada, deram início ao que hoje conhecemos como Capitalismo. Tal mudança não somente afetou o sistema feudal como também o meio social, implicando o desmoronamento da moral e dos valores, até mesmo religiosos.


"(...) Aguçava-se, então, a consciência de que o repertório de criar num novo sistema científico e moral que se harmonizasse com a ordem industrial emergente. Aliás, o industrialismo, com sua incontida força de transformação, impunha-se para todos como a marca decisiva da sociedade moderna. Por outro lado, difundia-se a concepção de que a vida coletiva não era apenas uma imagem ampliada da vida dos indivíduos, mas constituía um ser distinto, mais complexo e irredutível às partes que constituem (...)" .

Ele percebia na ciência social uma expressão da consciência racional das sociedades modernas. Desenvolveu um método de análise próprio baseado no Positivismo, em que as premissas são a observação, a indução e a experimentação - método positivo.

Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo determinado de fenômenos com caracteres nítidos, que se distingue daqueles estudados pelas outras ciências da natureza.

Veja-se a maneira pela qual são educadas as crianças. Toda a educação consiste num esforço contínuo para impor a elas maneiras de ver, de sentir e de agir, às quais não chegariam espontaneamente. Como nos testemunha o Autor: "(...) A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo a molda-la à sua imagem, pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes e intermediários. (...)" ³

Fato moral apresenta dois aspectos contraditórios: obrigação e desejo. A moral tem por objetivo o grupo; ela faz a ligação do grupo. Para ele, a sociedade é um aglomerado de personalidades distintas que a compõem; logo, ela é um bem e uma obrigação, pois se apresenta a partir de certos preceitos de caráter obrigatório. Nesse sentido, podemos ver que o indivíduo é o que a sociedade ou o todo deseja que seja, podendo até mesmo ser inadequada à realidade subjetiva.

Na visão de Durkheim, a realidade social apresentará dois aspectos: o subjetivo e o objetivo - exemplifiquemos: cada povo, em determinado tempo, pode ter uma moral vigente que os tribunais utilizem; uma opinião comum, que fortaleça uma moral comum; e um grande número de morais particulares de cada indivíduo que compreenda e veja sob ângulos diferentes, influenciado por educação, hereditariedade etc.

A divisão do trabalho social seria o grande responsável pelo esmaecimento da harmonia ou coesão social, pois, à medida que o trabalho se individualiza, o indivíduo debruça-se sobre suas tarefas, isola-se em sua atividade especial. Ele não mais nota a presença dos colaboradores que trabalham a seu lado, na mesma obra, e não concebe a idéia dessa obra comum. À medida em que há a perda da visão de conjunto, há o esmaecimento das normas que refletem a solidariedade grupal. O enfraquecimento da interação impede o desenvolvimento de um sistema de regras comuns e de um consenso. Nesse momento, há uma ausência relativa de valores, que Durkheim define como Anomia . Por esta razão é que Durkheim tenta reconstruir o social através do trabalho.

Para o Autor, a solidariedade social é um fenômeno social e o Direito é um fato que ajuda a analisar esse fenômeno, por ser um símbolo visível. O Direito reflete parte da vida social, e os costumes corrigem os rigores do Direito, pois apresentam um tipo de solidariedade diferente do Direito. Para Durkheim, o Direito reproduz as formas principais da solidariedade social. Ele, ainda, propõe a divisão da ciência em:

a) normas jurídicas repressivas, que procuram atingir o agente em sua honra, ou até mesmo a liberdade, cujo objetivo é consumar vingança ou inibir possíveis imitadores.

b) normas jurídicas restitutivas, que implicam o restabelecimento das relações perturbadas, sob sua forma normal. Ambos correspondem aos dois tipos de solidariedade.

Na solidariedade mecânica, o indivíduo fere a consciência coletiva, e em razão disso a sociedade o penaliza com a finalidade de defender-se; enquanto, a solidariedade orgânica surge com a individualização do trabalho, pois, se cada órgão tem sua autonomia, não gerará aproximação das consciências do grupo.

Os conceitos desenvolvidos por Durkhein apresentam aplicabilidade nas sociedades atuais. Em nações onde as normas jurídicas não são claramente definidas, o Direito se baseia nos costumes já adotados. Por outro lado, o capitalismo trouxe para nossa sociedade a necessidade de adaptação à realidade atual, de modo que o Direito que teve de se diversificar para atender à infinidade de causas existentes.

Bibliografia:

1. COLAVITTI, Fernanda. Sem rasteira. Veja. Rio de Janeiro: Abril, 16 de maio de 2001. p.142.

2. CHICOTADAS antes do casamento. Veja. Rio de Janeiro: Abril, 31 de janeiro de 2001. p. 54.

3. GRIPP, Alan. Canecão dominado. O Globo. Rio de Janeiro: 15 de março de 2001. p.18.

4. QUINTANEIRO, Tânia et alii. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: UFMG, 1999

retirado do endereço: http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_professor_virtual_perguntas_durkheim.html acesso em 18/06/2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Diálogo de Sócrates e Glauco - O Mito da Caverna

Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.

Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco - É bem possível.

Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco - Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?

Glauco - Assim terá de ser.

Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras.

Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?

Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.

Glauco - Necessariamente.

Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?

Glauco - Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco - Sem nenhuma dúvida.

Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.

Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

(Platão, A República, v. II p. 105 a 109)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Declaração Universal dos Direitos Humanos


Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultam em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A Assembléia Geral proclama:

A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1º

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo2º

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3º

Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4º

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5º

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6º

Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

Artigo 7º

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8º

Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9º

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10º

Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11

§1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

§2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo13

§1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

§2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo 14

§1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

§2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 15

§1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

§2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16

Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

§1. O casamento não será válido senão como o livre e pleno consentimento dos nubentes.

§2. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo 17

§1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

§2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo 19

Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20

§1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

§2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21

§1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

§2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

§3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22

Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23

§1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

§2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

§3. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

§4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus interesses.

Artigo 24

Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.

Artigo 25

§1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

§2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora de matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26

§1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

§2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

§3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo 27

§1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

§2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28

Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo 29

§1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

§2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

§3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Só de Sacanagem

Uma composição de Elisa Lucinda interpretada por Ana Carolina



Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.

Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração tá no escuro.

A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:

" - Não roubarás!"

" - Devolva o lápis do coleguinha!"

" - Esse apontador não é seu, minha filha!"

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!

Dirão:

" - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba."

E eu vou dizer:

"- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão:

" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".

E eu direi:

" - Não admito! Minha esperança é imortal!"

E eu repito, ouviram?

IMORTAL!!!

Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

Trabalho e Sociedade

"Um homem é um sucesso se pula da cama de manhã, vai dormir à noite e, nesse meio tempo, faz o que gosta”. Bob Dylan

Pra que existe o trabalho?

O trabalho existe para satisfazer as mais diversas necessidades humanas, das mais simples (comida, abrigo) às mais complexas (lazer, crença); enfim, necessidades físicas e espirituais.

A História mostra que o trabalho é visto de formas diferentes e valorizado de acordo com a relação que cada sociedade estabelece com esta atividade.


O trabalho nas diferentes sociedades

Sociedade greco-romana: A escravidão era fundamental para manter os cidadãos comuns longe do trabalho braçal, discutindo os assuntos que proporcionariam o bem-estar de seus semelhantes;


Sociedade feudal: Quem de fato trabalhavam eram os servos, os aldeões e os camponeses livres. Os senhores feudais e o clero exploravam e viviam do trabalho destes primeiros.


Sociedades tribais: Nas sociedades tribais o trabalho é uma atividade vinculada às outras, bem diferente das outras sociedades. A produção (trabalho) está vinculada a mitos e ritos, ligada ao parentesco, às festas, às artes, enfim a toda a vida do grupo.


O trabalho na sociedade capitalista

O capitalismo se constituiu a partir da decadência do Feudalismo na Europa Ocidental. Com ele o trabalho se transforma em uma mercadoria que pode ser comprada e vendida – a força do trabalho.


Weber - Relacionou o Capitalismo ao Protestantismo. A Reforma Protestante deu ao trabalho a condição de se obter êxito material como expressão de bênção divina, ao contrário da igreja cristã do sistema feudal;


Marx - Quando os trabalhadores percebem que estão trabalhando demais e recebendo de menos, os conflitos começam a ocorrer. Procurou demonstrar os conflitos entre trabalhadores e capitalistas, cujo lucro se dava através da “mais-valia”, diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Seria a base da exploração no sistema capitalista;


Durkheim - A divisão do trabalho seria uma forma de solidariedade e não um fator de conflito. A solidariedade orgânica une os indivíduos em funções sociais nas quais cada pessoa depende da outra. Assim, a ebulição pela qual passava a sociedade era uma questão moral, pois faltavam normas e instituições para integrar a sociedade.


Transformações no mundo do trabalho

Fordismo - No início do século XX, a partir do desenvolvimento das fábricas, surgem as linhas de montagem, com a divisão do trabalho mais aperfeiçoada e detalhada.


Taylorismo - Propõem a organização do trabalho de forma científica, racionalizando a produção. Surge na indústria o planejamento ajustado para controlar a execução das tarefas e os especialistas em administração. Os trabalhadores eram recompensados ou punidos de acordo com a sua produtividade na indústria.


Pós-fordismo ou acumulação flexível - A partir dos anos de 1970. Flexibilização dos processos de produção (automação); flexibilização dos mercados de trabalho (subemprego); flexibilização dos produtos e dos padrões de consumo – a durabilidade dos produtos é pequena e a mídia estimula a troca.

domingo, 28 de novembro de 2010

O que é Religião - I

Em conceitos gerais e usuais populares, aprendemos que Religião viria da palavra latina religare, ou seja, o de religar, o que em caráter usual se usa para religar a criatura com o seu criador. Mas o certo é que este significado a muito tempo não mais convence especialistas, léxicos e linguistas em geral que defendem que o termo religião seria oriundo da palavra latina religionem, que seria usado pelos romanos bem antes do surgimento do cristianismo e tem por significado mais exato como “um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão”, ou seja, disciplina obrigatória, rígida e dogmática.

Já nas edições revisadas dos dicionários “Aurélio” da lingua portuguesa, encontramos a palavra Religião como sinônimo de “crença na existência de forças sobrenaturais bem como suas manifestação através de ritos e práticas externas”.

O Dicionário Michaelis de lingua Portuguesa, grafa o vocábulo “Religião” como sendo sinônimo de “serviço de culto a Deus ou outra divindade por meio de ritos, práticas, preces, sentimento de submissão a esta divindade, culto externo e interno a este mesmo Deus, relevação divina das palavras da divindade, temor de Deus, obrigação moral e dever de prestar reverencia para com a divindade...”.

De acordo com a origem da palavra e em paralelo com o seu real significado para a lingua portuguesa, podemos observar seu real conceito. Em contraste com o já exposto, transcreveremos a seguir a crítica acadêmica a respeito sobre o conceito de “Religião”. Sendo a palavra “Crítica” uma prática do diálogo, onde é nada mais nada menos do que a exposição de opinião relativo a algo exposto, não existindo academicamente os termos populares “crítica construtiva ou destrutiva”, pois só existe a Crítica como uma avaliação de material intelectual produzido, sendo neutro e apenas expositivo.

Academicamente, como exposto na obra “Modernidade, Conceitos e Valores” (Unopar Editora, londrina, 2008), o Mestre em História Social, Guilherme Bordonal, nos esclarece que além do já exposto sobre o vocábulo Religião, o mesmo deve ser entendido como um processo de formação ou transformação cultural em massa dentro de uma sociedade, visando a legitimar ideais políticos, econômicos e sociais, bem como as noções de ética e moral das mesmas sociedades onde estas “religiões” nascem, o que causa a transformação social das mesmas num processo interligado entre o surgimento da religião como símbolo máximo da transformação social acontecida no mesmo grupo.

Em outras palavras, além das práticas, normas, dogmas, crenças e crendices, as religiões só nascem através de transformações sociais intensas e visíveis, e quando esta mesma grande transformação não ocorre não existe uma religião, pois seria apenas uma facção, seita ou linha doutrinária divergente da corrente religiosa da qual ela se separa.

Como exemplo citamos as três religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo.

O Judaísmo, como religião e movimento cultural, nasceu junto com a saída dos hebreus do Egito, onde Moises institucionalizou um conjunto de 613 regras que norteariam a vida daquelas pessoas, passando a serem os primeiros homens a terem a crença de um deus único, e assim criaram o Povo Hebreu, sendo modernizado para sua fase atual após o ano 135 de nossa era quando foram expulsos de jerusalém e dando inicio a fase de vivência deste povo na diáspora.

Já o Cristianismo é outra religião monoteísta, que foi realmente “criada” no ano de 313 em roma pelo imperador Constantino, e dogmatizada no ano 325 pelo Concilio de Nicéia, vindo mais tarde a ser a única instituição remanescente do império romano, e vindo a dar base para a formação dos estados europeus da modernidade.

O Islamismo surgindo no ano 623 (aproximadamente), veio a unificar as varias tribos nômades da península arábica ao redor de uma mesma crença, ou conjunto de crenças, vindo a surgir a partir daí um “Povo Árabe”.

Assim sendo, podemos definir também o Protestantismo como uma religião, pois assim que o mesmo surgiu, introduziu uma nova ordem mundial na Europa e em outros continentes, que foi a mudança sócio-cultural e econômica que foi o advento das práticas que conhecemos como “Capitalismo”. Assim sendo os protestantes (luteranos, calvinistas, puritanos, presbiterianos, anglicanos), apesar de serem cristãos, tem academicamente por religião a “Religião Protestante”, pois dogmaticamente diferem em alguns pontos com as correntes católicas (as primeiras correntes oficiais cristãs), e porque com o seu surgimento (protestantismo) surgiu o capitalismo e teve inicio o fim do feudalismo na Europa, e tendo iniciado a formação dos atuais estados europeus.

As religiões dentro deste princípio podem conter facções, linhas, ramificações, seitas, partidos, etc, como por exemplo, dentro do Judaísmo temos as linhas Ortodoxas, Reformistas, Liberais, Messiânicas, e já existiram os Ebionitas, Saduceus, Essênios e Fariseus (sendo esta ultima ainda existente e base de todas as linhas judaicas, sendo preservada na corrente ortodoxa). Dentro do Cristianismo temos as linhas católicas, evangélicas, reformistas, pentecostais, neo pentecostais, etc. Dentro do Islamismo temos as correntes Xiitas, Sunitas, Sufitas, etc.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Crítica de livro - Operação Cavalo de Troia 1

Apesar de muitas opções literárias presentes em lingua portuguesa, o brasileiro ainda é um povo que pouco se proporciona este prazer, e infelizmente quando se apega a uma leitura, não utiliza a razão e o bom senso para averiguar se o que esta lendo é uma ficção ou um fato real, e chega a criar até mesmo verdadeiras filosofias em torno de algumas obras. Enfim, após ler um livro que tem a muitos anos um forte apelo, citado até mesmo por professores e "pesquisadores", afirmando ser este um relato verdadeiro, escrevo esta pequena crítica após ler e estudar as páginas da referida obra.

Apontaremos a seguir as discordâncias históricas e culturais encontradas no referido livro, o que por si só comprovaria seu conteúdo fictício e não merecendo crédito quanto a sua veracidade.

1 – A autor fala que a missão retornou ao ano 30 da nossa era, desconsiderando as correções que nosso calendário sofreu, pois o mesmo fala num número exatos de ano, ou seja, ele retornou a exatos 1980 anos atras (do nosso ponto de vista, 2010). Neste ano exato o autor relata que a pascoa judaica, ou seja, o Pessach ocorreria entre uma sexta e um sábado ou shabat judaico. De acordo com qualquer calendário perpetuo, tanto o kaluach (calendário hebreu) quanto o calendário perpetuo católico (com a correção do calendário juliano para o gregoriano), colocam exatamente as datas de sua chegada ao passado, dia 30 de março numa quinta feira (como o mesmo afirma), mas a páscoa daquele ano não caiu no sábado, mas sim entre quarta e quinta, (quarta a vespera e quinta a pascoa mesmo). Do mesmo modo o autor se esquece nas suas conversões de que o calendário judaico é um calendário que tem seu inicio ao por do sol, ou surgimento da primeira estrela, e diferente do gregoriano que começa após as 23:59.

Todo o meio acadêmico já sabe que Jesus historicamente pode sim ter existido, pois temos referencias a ele no próprio Talmud, alem da obra de Josefus, e que corrigindo os cálculos do calendário gregoriano, identificamos seu nascimento em aproximadamente entre 06 e 08 antes da era comum, ou seja, mais precisamente no ano 07 antes de cristo. Desta forma, Jesus tendo pregado dos 30 aos 33 anos, sua morte ocorreria no ano 26 da nossa era, nesta data sim a pascoa ou pessach ocorreria num shabat, mas no dia 23 de março. De acordo com os calendário, da mesma forma se Jesus tivesse realmente nascido no ano 1, e morrido no ano 33, a pascoa ou pessach também ocorreria num shabat, mas no dia 04 de abril. Logo as datas informadas no livro estão totalmente erradas. Já com este erro podemos desconsiderar a obra como autentica, pois temos material suficiente e ao alcance de todos hoje em dia para comprovar tal evidência.

2 – De acordo com as leis referentes ao shabat, só é proibido alguns trabalhos (39 pra ser mais exato). Não se pode fazer fogo no shabat, apenas as duas velas que se acendem antes do por do sol de sexta-feira. Como então que em pleno shabat eles bebiam faziam alimentos ao fogo (leite, almoço, etc) se fazer ou mexer com fogo no shabat é proibido? É proibido banhar-se no shabat, a menos que seja extrema urgência de higiene (doença por exemplo), logo por prudencia não se lavam ao acordar como relata o autor.

Outro ponto importante que o autor relata é que o sexo é proibido no shabat, o que não é verdade, muito pelo contrario, por ser um dia de descanso de trabalhos e um dia para se estar com a família, é recomendável ao casal que faça sexo, pois é o dia mais propicio para trazer ao mundo mais uma alma, devido a proteção divina que paira neste dia.

3 – Agora veremos erros grotescos e preconceituosos:

  • Afirmar que Jesus era caucasiano. Jesus sendo judeu, com certeza seria semita e não ariano. Sendo semita teria feições que representam os povos do oriente médio da atualidade, ou seja, pele morena ou amarelada, olhos pretos, castanhos (em todas as tonalidades), mel levemente esverdeados (olhos claros citados por publuis lentulus). Não existe olhos azuis em povos semitas, mesmo hoje que existe a miscigenação é algo muito difícil ocorrer, pois olhos escuros são dominantes aos olhos azuis, imaginemos a 2000 anos atrás com todo o orgulho racial e leis de matrimônio existentes entre os judeus.
  • Pedro de olhos azuis. Como mostrado acima seria impossível um judeu de olhos azuis em plena antiguidade. O autor ainda aforma que pedro tirava o bigode e que seu irmão sempre estava bem barbeado, o que denota mais um erro crasso, pois existe uma lei na Torah que diz “e não tocaras na extremidade de tua barba”, que faz com que os homens não raspem nunca sua barba, e faz com que muitos ortodoxos deixem ainda uma trancinha de cada lado do rosto, na junção da barba com o cabelo. Logo a lei proíbe e inibe que os homens tirem sua barba, ainda mais que usem a face totalmente desprovida de barba e bigode, o que era uma moda grega, e a cultura grega era totalmente repudiada pelos judeus (apenas alguns da elite eram coniventes, mas não totalmente helenizados).
  • O autor pinta Jesus com um manto vermelho. O manto chama-se Talit, que é o manto de oração dos judeus, e existem leis que o regulamentem. Entre eles seria a presença de um fio azul em cada um dos quatro cantos do manto. Quanto as cores, vale ressaltar que os romanos impuseram muitas restrições, pois as castas romanas se diferenciavam pelas cores de seus mantos, por exemplo, as cores azul e vermelho e todas as suas tonalidades eram exclusivas dos cidadãos de roma, sendo passivel de morte outra pessoa as ostentar, logo Jesus já teria morrido por desacato se realmente tivesse um manto vermelho. Outro ponto, para se adentrar no templo de jerusalém, os judeus usavam mantos brancos, pois no momento da oração, todos cobertos de mantos brancos (demonstrando pureza e humildade) seriam todos iguais perante Deus (tanto ricos quanto pobres), logo o mais comum é que todos os mantos fossem brancos ou em tons claros, e nunca nas tonalidades de azul e de vermelho.
  • O autor fala que todos os dias escutava-se moendas de grãos, até mesmo na casa de lazaro, mas sua irmã comprava o pão. Se existiam moendas é justamente para fazer a farinha para fazer pão, não havendo a necessidade de comprar, pois a compra era justamente para os estrangeiros ou para os próprios romanos que lá habitavam.
  • O major do livro fala que teve um bom aprendizado de grego, aramaico (alguns dialetos) e até mesmo hebraico, mas não conhece a palavra “tecton” em grego (construtor), ou muitas expressões em aramaico, que seriam de uso corriqueiro.
  • Pagina 211, 2º paragrafo. Fala de um relevo onde se vê uma estrela de 5 pontas e o mesmo faz menção ser a estrela de Davi, só que a estrela de Davi possui 6 pontas. O autor fala que a palavra Jerusalém é formada por 5 letras, uma em cada ponta da estrela, mas como já dito, a estrela de Davi tem 6 pontas, e a palavra Jerusalém escrita em hebraico ou aramaico possui 7 letras.
  • Pagina 214, 6º paragrafo. O autor fala que Jesus disse que Deus abandonaria os judeus e eles seriam destruídos se renegassem a doutrina que Jesus estava trazendo. Bom, quanto a isso não precisa ser um especialista para ver a incoerência, primeiro que Deus não abandonaria, e segundo que mesmo os Judeus rejeitando Jesus até hoje, eles continuam existindo, e reconstruindo seu estado autônomo como nos tempos do rei Davi.
  • Pagina 305-306, cardápio da pascoa. Em primeiro lugar o cordeiro era feito no templo, e ao que da a entender era cozido e não assado. Em segundo lugar, patas e vísceras são partes impuras e jamais seriam servidas juntas, nem ao mesmo preparadas, pois após o abate de forma kasher estas partes são colocadas foras imediatamente ou vendidas a não judeus.
  • O autor fala em Jaroset, que em português se escreveria Harosset. Mas a receita esta errada, pois o harosset não vai vinagre. E não é sobremesa, faz parte do pratos ou dos seis pratos principais servidos numa única bandeja. É uma pasta a ser comida com as mãos e não uma compota como descrito.
  • Todo o projeto cavalo de troia teve um extremo cuidado para não levar nada de nosso tempo ao passado, tanto que o personagem Elizeu recebia alimentação via sonda, e suas fezes eram coletadas em um aparelho conectado na sua extremidade retal, pois o mesmo não faria nenhuma alimentação dentro do “Berço” para evitar varios perigos. Como então o personagem Jasão faz um desjejum a moda americana, com cereal, leite, ovos e bacon? De onde em plena palestina do século 1 conseguiria bacon e cereal? Onde ele cozinhou este café da manhã, já que o livro dá a entender que não existia “cozinha” no berço?

A obra ainda apresenta muitos erros, tanto nas leis quanto nos costumes judaicos, mas somente com o pouco apresentado podemos averiguar que não se trata de um relato verdadeiro, mas sim de uma obra de ficção, que não teve o minimo de estudo para sua construção, pois que se fossem resolvidos estes pontos até poderíamos dar créditos ao enredo, mas, as evidências comprovam a total desarmonia em datas, locais, costumes, tradições, entre outros tantos detalhes.