O Elemento étnico-sócio-cultural denominado "marrano", anussim ou bnei anussim, é fruto de uma longa luta dentro da própria história, vindo a ser hoje um indivíduo de certa forma "marginalizado" dentro de seu próprio mundo, como que se vivendo em um limbo ideológico, pois não se vê como cristão e não é "aceito" como judeu, mas de onde provem este termo que o designa?
O movimento Anussim, Bnei Anussim, Marranos ou Retornados, surge de algumas décadas pra cá como um movimento organizado ou que vem se organizando em alguns pontos do país e do mundo, como forma de resgate étnico e cultural dos então descendentes de judeus que foram perseguidos pelas inquisições portuguesa e espanhola há aproximadamente quatro séculos atrás e que hoje tentam reclamar seu direito a uma identidade cultural, a fazer parte de um povo, mas que de certa forma se sentem descriminados de um lado pelo ocidente (cristãos) que não os vê como iguais e de outro pela própria comunidade judaica que os vê com um ar de desconfiança e requer uma enorme burocracia para aceita-los de volta ao seio do povo judeu.
Quem é e de onde veio o “marrano”
O termo Marrano que em espanhol significa porco ou leitão de acordo com as pesquisa de David Maeso (1977) “tem um forte significado pejorativo que veio a ser designativo dos judeus que se converteram ao cristianismo, se não de forma sincera, mas ao menos para escapar dos perigos que representava o tribunal da santa inquisição”. Já segundo Lipiner (1977), a terminologia é muito mais antiga do que o significado anterior. Apresenta as definições de Marrano como sendo de origem hebraica ou aramaica: Mumar, que significa converso, oriundo da raiz hebraica mumar acrescido de sufixo em idioma castelhano ano vindo a derivar mumrrano, que abreviando torna-se marrano, designando justamente o convertido a fé cristã católica romana. Poderia ser ainda uma acomodação para as línguas ibéricas do vocábulo hebraico Marit-ayn que significa aparência, pois muitos destes convertidos o eram somente em aparência, pois dentro de seus lares continuariam a professar e praticar a fé judaica. Ocorre ainda a referencia a outras formas ou origens, como os termos Mar-anús: designando o homem batizado à força, de forma amargurante e humilhante, onde o vocábulo Mar em hebraico significa amargo e Anus, em hebraico, significa forçado, violentado.
Mais recentemente, com o constante crescimento de movimentos de legalização da causa marrana, paulatinamente vem-se substituindo este termo, que para muito ainda soa pejorativamente por um outro, também de origem hebraica que seria Ben Anus ou Bnei Anussim, onde ben significa filho em hebraico e bnei como forma plural de ben, da mesma forma o termo anus ganha sua forma plural em anussim.
Entende-se de fato que ambos todos os termos citados, seja Marrano, Bnei Anussim, ou simplesmente Anussim, vem a designar o judeu de origem ibérica que no período compreendido entre os séculos XIII e XV teve de optar pela conversão forçada ao catolicismo romano ou a morte, e que sofreu ainda até o século XIX, mas precisamente no ano de 1821 uma dura e forte perseguição, justamente por ainda praticarem o judaísmo familiar. Assim com o passar do tempo, veio a ganhar significados pejorativos, sempre ou quase sempre relacionados com uma das mais importantes práticas ou regras alimentares da fé judaica que é justamente a não ingestão de carne de porco.
Portanto, os termos, Marrano, Anus, Ben Anus, juntamente com seus plurais e femininos respectivos se referem aos Judeus da península ibérica (Portugal e Espanha) que foram obrigados a professarem a fé católica romana, e também aos descendentes que nos dias de hoje buscam retornar a fazer parte de forma oficial ou não de todo o legado histórico-sócio-cultural de seus antepassados, e que foram ao longo do tempo deixando sua marca na construção da nação que hoje povoa o território das Américas, mas precisamente o Brasil (que é o enfoque referencial deste trabalho).
RODRIGUES, Albo Berro. Movimento Anussim: O difícil retorno ao lar. 2010. 34 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em História, Universidade Norte do Paraná, Ijuí, 2010.
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